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Foto do escritorThainá Santos

O que é preciso para que o futebol feminino no Brasil possa continuar crescendo?

Atualizado: 12 de out. de 2019

Sábado (06/07) rolou um debate no museu do futebol, no estádio do Pacaembu com importantes questionamentos sobre o atual momento do futebol feminino no nosso país.


Questionamentos que foram propostos a quatro especialistas na modalidade:


Da esquerda para a direita: Silvana Goellner; Soraya Barreto; Daniela Alves; Cristiane Gambaré; Emily Lima e Lu Castro

Silvana Goellner , professora da UFRGS, pesquisadora e curadora da exposição "Contra-ataque: as mulheres do futebol"

Soraya Barreto, autora de livros sobre torcida feminina e futebol feminino, pesquisadora pela UFPE.


Daniela Alves, ex – jogadora e treinadora da categoria sub – 17 do Corinthians.


Cristiane Gambaré, diretora do futebol feminino do Corinthians.

Emily Lima, ex – jogadora e atualmente técnica do Santos feminino.


Debate mediado por Luciane de Castro, jornalista que tem sido uma das principais militantes em defesa do futebol de mulheres no Brasil.


A primeira pergunta do debate, feita pela mediadora Lu Castro as especialistas foi a pergunta que estamos nos fazendo com tudo o que vem acontecendo no futebol feminino mas que fazemos de maneira errada, “ Chegou a vez das mulheres no futebol? ” pergunta que foi primeiramente direcionada a professora Silvana, que trouxe uma perspectiva muito importante.


“ As mulheres sempre estiveram no futebol, agora talvez chegou a vez da visibilidade. 2019 é um marco muito importante, sobretudo nessa questão da visibilidade, eu tenho dito que as mulheres protagonizam o futebol há muito tempo. E acho que esse protagonismo não é reconhecido seja pelas próprias mulheres, seja pelos homens que comandam o futebol no Brasil e seja pela sociedade no geral. Por que elas não são reconhecidas?


" Porque não se conhece essas histórias. O grande avanço que talvez a gente tenha conseguido de quatro anos pra cá, é dar mais visibilidade, contar as histórias, mostrar essa presença que essas mulheres existem há muito tempo e isso de várias maneiras. As mídias alternativas possuem um papel fundamental, foram essas mídias que pautaram o futebol de mulheres e a mídia tradicional, então se uma Globo hoje transmite a Copa, tem uma série de questões pra gente pensar, mercadológica e também uma questão de pressão de que não dá mais pra não ver, dizer que não existe porque existe."


" Nos últimos 5 anos tem aparecido muitas mulheres estudando o futebol de mulheres, alguns homens mas muitas mulheres e eu acho que isso também abre um leque de possibilidades de contar histórias e narrativas de coisas que a gente não conhece, são trabalhos de equipes regionais, equipes nacionais, jogadoras."


" Em uma cultura como a nossa que é uma cultura machista,que é uma cultura que as mulheres valem menos que os homens em todos os campos profissionais não só no futebol, então os movimentos feministas eles já também colaboraram para trazer de que as mulheres são protagonistas, elas são importantes o que lhes falta é oportunidade. No Brasil ele é gestado por homens e para homens sobretudo, as mulheres elas têm pouco acesso, não que elas não tenham competência, o que acontece é que não é lhes dada a chance para que elas possam exercer sua profissão. As mulheres sempre tiveram no futebol, o que elas não tem é oportunidade e sobretudo a inviabilização da sua presença na modalidade. O avanço é que as mulheres estão levantando suas vozes e mostrando que são capazes” completa a Professora Silvana.


Soraya Barreto:


“ Agora é a hora da visibilidade. Faço parte de um observatório na UFPE e a gente fez um monitoramento da mídia na Copa do Mundo no Canadá (2015) e a gente via a visibilidade ínfima. Cerca de 4% da quantidade de notícias de uma Copa do Mundo masculina foi feita na Copa do Mundo no Canadá. A gente ainda está recolhendo os dados dessa, mas é uma coisa surrealmente distinta. O jogo Brasil e França foi o primeiro recorde de audiência; 32 milhões de pessoas assistiram o jogo. "

" Então, na verdade, não é que a gente não tinha mulheres no futebol ou não tinha futebol feminino acontecendo; a gente não tinha aonde ver isso. Há dois anos, na Copa América Feminina a transmissão era no Facebook e agora temos uma TV do porte da Rede Globo televisionando."


" A gente fala do feminismo, mais, especificamente, o ciberfeminismo vai ajudar. Há um trabalho coletivo, principalmente de mulheres, para fazer acontecer. A gente vê um movimento feminino e feminista muito forte e que precisa ser reconhecido como tal porque é um movimento político e é uma relação de ocupação e resistência, como Simone de Beauvoir bem coloca: se a gente não continuar com resistência e com vigilância a gente perde o que ganhamos, não é uma coisa que esta conquistada. Vai começar o campeonato brasileiro feminino a gente precisa dar visibilidade , precisa assistir, precisa dar audiência, partilhar noticias e informações sobre isso, porque só assim para as meninas terem visibilidade.”


Emily Lima:


“Eu tenho que ser realista, tenho que falar o que está dando certo, o que tem que ser exemplo. Hoje a gente vê o Corinthians sendo Corinthians. A gente vê uma estrutura de futebol feminino do Corinthians, a gente vê a valorização que o Corinthians dá para o futebol feminino e isso é bom para a modalidade."


" Se eles querem os clubes grandes, como São Paulo, Palmeiras, Corinthians, a gente tem que fazer bem feito. Sim, nós sempre tivemos nosso espaço, a gente precisava de oportunidade. Eu acredito que precisa querer fazer, precisa querer mudar. A gente vê bastante coisa ruim sobre o futebol feminino nas mídias, então tem que tentar fazer diferente. A gente precisava da oportunidade e a oportunidade está aí, a gente precisa aproveitar.”


Daniela Alves:


“É uma honra receber homenagem em vida. A gente que lutou tanto e continua lutando por uma modalidade que sofreu muito e que,hoje está melhor. Receber uma homenagem por conta de algo que você fez é muito gratificante. Nós somos Dianas, somos mulheres maravilhas para outras mulheres que hoje conseguem ver a possibilidade de entrar na modalidade, porque o futebol feminino sempre existiu, escondido. "


" Eu mesma, quando comecei a jogar, achei que era a única mulher no mundo que jogava futebol. É possível vocês buscarem o seu espaço, porque hoje elas nos vêem como referência, tanto na parte acadêmica como na parte do gramado. Esse é o nosso papel: poder abrir mais ainda esse leque para essas meninas. "


" O futebol feminino, na minha visão, não regressa mais, ele só tende a crescer, a se ampliar, mesmo que tenha vindo de uma obrigatoriedade. A gente vê como uma conquista. É possível você chegar a uma Marta, é possível você chegar a uma Formiga, que, com 41 anos, está correndo do jeito que ela corre. A gente, dentro da nossa casa, não tem uma estrutura para isso. Mas a gente, como mulher, guerreiras que somos, fomos atrás, dando o melhor que temos.


Cristiane Gambaré:


" Estou no futebol há alguns anos, sempre nos bastidores. Quem tem que aparecer são as atletas, o meu clube, minha comissão. Hoje, a visibilidade do futebol feminino realmente depende de uma confederação, das federações e que os clubes tenham esse amor que a gente tem."


" Diariamente (no Corinthians), tem matérias dos bastidores e acontecimentos. Deu muito certo a integração com os torcedores. Hoje, a visibilidade é grande e o respeito é muito maior. Esse é o melhor ponto: o respeito que nós gestores temos com as atletas. Em contrapartida, o retorno está sendo isso, no campo, a visibilidade e o respeito e crescimento delas. Estamos no auge de mídias, estamos aparecendo no mundo inteiro, com a ação do 'Cale o Preconceito', a ação do 'Respeita as minas' e não vai parar. Já estamos planejando para 2020. A preocupação é constante! Nós precisamos, sim, nos unir nos bastidores para planejar e cobrar, da confederação e das federações.”


Outra fala que também cabe destacar é da Monica que faz parte do Movimento Toda Poderosa do Corinthians.


Eu sei o que é preconceito no futebol e o futebol feminino é uma parte disso. Eu acredito muito nisso que pra gente ter uma continuidade para que as coisa não acabem, a gente precisa ter uma união de força muito grande entre as mulheres em vários aspectos dentro do futebol."


" O movimento toda poderosa corinthiana surgiu de uma pesquisa que nós fizemos dentro do Corinthians, 52% da torcida do Corinthians é de mulheres e isso é uma grande representatividade dentro do futebol e mesmo com uma torcida desse tamanho, você tem politicamente dentro do clube 1% de mulher como conselheira, você não tem representatividade, então você não vai nunca conseguir só com exemplos dentro de campo, você precisa ter representatividade dentro das politicas também, dos clubes e das federações."


" A gente quer mulher na arquibancada, a gente quer mulher como técnica de futebol, a gente quer mulher dentro do Ct, a gente quer mulher na presidência do clubes e na presidência das federações. Eu também sou sósia dos Gaviões a muito tempo e a gente separou muito o movimento das torcidas organizadas porque as torcidas organizadas são antros de machismo. Quando jogador no caso do masculino faz declaração machista a gente cai em cima mesmo, na rede social a gente compra briga quando falam que futebol feminino dá sono, porque essa batalha eu acho que é um trabalho de formiguinha de todos. O Movimento Toda Poderosa Corinthiana está aberto para todas, rivalidade a parte, rivalidade é uma coisa saudável, vamos se juntar todas as mulheres para dar força para elas e com isso todas nós vamos crescer ” Completa Monica.





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