Em 1950, o Brasil era o favorito a vencer a Copa do Mundo. Em casa, precisava apenas de um empate sobre o Uruguai para conquistar o tão sonhado título, que seria o seu primeiro, mas a derrota nos minutos finais acabou com o sonho dos brasileiros. O feito ficou conhecido como o Macanaço, ocorreram suicídios naquela noite aos quais muitos relacionam a derrota da seleção no mundial.
A história de 1950, muitos já conhecem. A noite em que o Brasil perdeu aquele título foi por muito o momento mais triste do Maracanã, foi o fantasma que atormentou o goleiro Barbosa e que acabou com sua carreira. Mas, 70 anos depois, na semana do aniversário de um dos maiores templos do futebol, o Maracanã presenciou uma tragédia que vai muito além das quatro linhas.
Estamos vivendo uma pandemia e seu estrago é incontável, só no Brasil, até o momento em que esse texto foi escrito, foram 57.658 mortes em decorrência da Covid-19, esse número será maior quando o texto for publicado. Mas, mesmo vivendo uma pandemia, no meio de uma crise na saúde pública brasileira, em meio a tanto luto, sofrimento e dor, a FERJ decidiu retornar o futebol carioca, pois o grande jogo entre Flamengo e Bangu era mais importante do que o respeito aos pacientes internados no hospital de campanha que está localizado no estacionamento do estádio.
Enquanto Arrascaeta, Bruno Henrique e Pedro Rocha comemoravam os seus gols que garantiam a vitória do Flamengo, duas famílias vestiam o luto. Enquanto o jogo acontecia, duas pessoas perderam suas vidas ao lado do estádio. Ao final do jogo, em sua entrevista coletiva, o técnico Jorge Jesus disse a seguinte frase: “Tem que deixar trabalhar quem tem condições”, foi a cereja do bolo do desrespeito a toda a situação.
O futebol não é um serviço essencial, o Brasil mostrou perfeitamente como não se deve agir diante de uma pandemia, a volta do futebol só comprova isso. Enquanto jogadores voltam a jogar, enquanto clubes como Flamengo mantém seus dirigentes em Brasília negociando com o presidente da república, enquanto as pessoas ignoram o vírus e seguem suas vidas normalmente, os números não param de subir. A tragédia já foi anunciada e mais uma vez, nosso povo se faz de surdo. Até quando o futebol vai ser maior que tudo? Não deveria o futebol ser um agente social? Não deveriam os ídolos serem exemplos? Até quando iremos viver nessa inversão de valores?
O Maracanã merecia um presente de aniversário digno, mas ao invés disso, ganhou a pior noite de sua história.
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