O Fair Play é uma filosofa que foi adotada nos esportes que prima pela conduta ética nas competições, traduzindo, significa Jogo Justo e a expressão surgiu em 1896, em Atenas, nas primeiras Olimpíadas da Era Moderna. O idealizador desse pensamento foi o organizador do torneio, o Barão de Coubertin através da frase: “Não pode haver jogo sem fair play”. Mas, depois de mais de um século do surgimento dessa filosofia, quão justo está sendo o esporte? Podemos citar alguns exemplos de Fair Play no futebol, mas em contra partida podemos citar muitos exemplos da falta de jogo justo também.
Quando se fala sobre o tal do fair play um dos primeiros exemplos que me vem a cabeça aconteceu em 2017 no Campeonato Paulista, no confronto entre Corinthians x São Paulo, o grande protagonista? O zagueiro Rodrigo Caio, que na época defendia as cores do Tricolor Paulista. O goleiro Renan sofreu uma falta dentro de sua área e o árbitro da partida amarelou o então centroavante corintiano, Jô. O Fair Play aconteceu quando Rodrigo Caio alertou o juiz que teria sido ele o responsável pelo toque no goleiro e o árbitro retirou o cartão que havia apresentado para Jô. Se aquele cartão não tivesse sido retirado, Jô estaria fora do jogo de volta.
A atitude de Rodrigo Caio repercutiu mundo a fora e dividiu opiniões. Muitas críticas foram disparadas para o zagueiro que passou por uma fase bem conturbada logo após, mas também rendeu uma convocação parra a seleção Brasileira e um elogio do técnico Tite. Mas foram as críticas nada construtivas que se sobressaíram. Muitos disseram que “isso não é coisa para se fazer dentro do futebol” e criticaram o fair play, como se o simples fato de ser um jogo validasse qualquer tipo de irregularidade. Na época eu defendi a conduta de Rodrigo Caio e continuo defendendo até hoje. Se mais jogadores agissem como Rodrigo Caio, o futebol seria mais justo, como pede a filosofia.
Mas não é assim que as coisas funcionam no mundo da bola, infelizmente. No jogo de volta o São Paulo acabou derrotado novamente, Jô, que deveria estar de fora da partida e foi o maior beneficiado pelo gesto do zagueiro, marcou um gol com toque de mão.
Os comentários negativos feitos sobre Rodrigo Caio escancaram a cultura do futebol, e é importante ressaltar que isso não se limita ao futebol moderno. O futebol mexe muito com a emoção do torcedor e é normal se estressar ao ver seu time sendo prejudicado de alguma forma, mas o que não podemos esquecer é que o futebol pode até explicar o mundo, mas não justifica tudo. O gesto de Rodrigo Caio se tornou gigante pois mostrou que um jogo não vale mais que o caráter de uma pessoa.
Não cabe apenas aos jogadores fazerem uso do fair play, as entidades também precisam compartilhar desta filosofia. O jogo limpo é dever de todos que pertencem ao esporte, sejam entidades, atletas, torcidas ou imprensa. Talvez a maior falta do uso dessa filosofia tão importante aconteça nos estádios, quando os gritos racistas ecoam pela torcida e nada é feito, quando jogadores que estão sendo humilhados, não tem apoio. Desde julho de 2019, os árbitros estão autorizados a paralisar – e até encerrar- uma partida quando ocorrerem ataques racistas.
No jogo entre Porto e Vitória de Guimarães, pelo Campeonato Português, o atacante Marega sofreu fortes ataques pela torcida adversária e abandonou o jogo após reagir as ofensas. O jogo não foi paralisado, como deveria. Aqui faltou o uso do fair play por parte do árbitro e da entidade responsável pela competição. Após o caso, o jogador se manifestou dizendo: “Eu gostaria que o jogo tivesse parado. Gostaria que o árbitro e a Liga tivessem outra atitude. Uma coisa são os Slogans contra o racismo, outra é a ação do dia a dia. Só servem para tirar foto e nada mais.”
Mas, se há os exemplos negativos e os que não obtiveram apoio, existe também atitudes que são aplaudidas por todos. Na 24° rodada da Bundesliga, no confronto entre Hoffenheim e Bayern de Munique, o jogo precisou ser paralisado duas vezes devido a protestos por parte da torcida do Bayern. Os “Ultras” como são conhecidos, exibiram faixas com dizeres ofensivos ao presidente do time adversário, Dietmar Hopp. Os jogadores bávaros junto com seu treinador tentaram acamar a situação, pedindo para que os torcedores retirassem as faixas. Retiraram uma vez, mas logo voltaram a ser exibidas, como a conversa não adiantou o árbitro paralisou a partida e os jogadores se retiraram para o túnel de entrada.
Nesse momento o Bayern vencia os donos da casa por 6x0 e dava uma aula sobre esquema tático, mas tudo que foi apresentado pelo clube foi ofuscado pelo ato de sua própria torcida. Quando o árbitro autorizou a volta dos clubes aos gramados, os jogadores de ambos os times ficaram tocando a bola entre si, o jogo acabara, dali em diante ocorreu um protesto silencioso e pacifico por parte de ambos os times que se mostravam contra a atitude da torcida, a manifestação durou cerca de quinze minutos. Este é um bom exemplo do que é o fair play. Mesmo sendo sua torcida, o Bayern se posicionou contra os ataques e a falta de respeito ao adversário. A paralização em si foi bastante criticada, mas a ação dos clubes vem sendo bastante elogiada.
O fair play precisa ser adotado com mais rigor, diferente do que muitos pensam, isso não tornaria o esporte chato, mas mais humano. Nós precisamos parar com essa mania de acreditar que o futebol é algo irracional, pois não é. Um futebol mais justo é exatamente o que precisamos e não devemos fazer uso do fair play apenas por medo de punições, o fair play é importante para incluir e nos lembrar que o futebol é feito por pessoas que como quaisquer outras, erram e precisam se redimir por suas falhas. Que apareçam mais jogadores como Rodrigo Caio, que mais times adotem a postura que os alemães tiveram na tarde de hoje e que cada vez menos as ligas e arbitragem sejam coniventes ao preconceito, entender a importância do fair play é o primeiro e mais importante passo para um futebol mais acessível, limpo e inclusivo.
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