A franquia Carros, lançada em 2006, fez muito sucesso entre as crianças da época, a Pixar criou todo um universo automobilístico para crianças, onde ao invés de humanos, a população é constituída por automóveis. O personagem principal dos filmes é o famoso carro de corridas Relâmpago Mcqueen, que sonha em conquistar o tão cobiçado troféu da Copa Pistão, mas acaba se perdendo em uma pequena cidade do interior (Radiator Springs), onde conhece um dos mais famosos carros de corrida do passado, Doc Hudson, e acaba aprendendo lições que transformaram sua pilotagem e moldaram o caráter e personalidade do protagonista. Logo, a primeira lição já nos é deixada: o automobilismo é um meio cercado por ambição e ego, e em alguns casos, isso pode atrapalhar a carreira do piloto, tudo o que é demais, pode ser prejudicial. No início do filme, Mcqueen se mostra arrogante, a fama o havia virado a cabeça, mas após passar por uma verdadeira prova em Radiator Springs, o carro de corrida entende que há coisas mais preciosas do que um troféu vazio. Muitos pilotos passam a imagem de arrogantes e alguns chegaram a se prejudicar por conta da característica, outros mudaram certos comportamentos ao longo da carreira, igual Mcqueen optou em fazer.
Mas, o foco aqui é o terceiro filme da franquia, lançado em 2017. Nele, Mcqueen, que se tornou tudo o que sonhou, começa a perder espaço quando jovens carros de corrida surgem com todos os seus aparatos tecnológicos, com isso Relâmpago Mcqueen começa a perceber que seu tempo nas pistas está acabando, mas não aceita o fato, afinal correr era a parte mais importante da vida dele. Para tentar se reinventar e acompanhar o progresso das corridas, um novo patrocinador surge e o famoso simulador aparece na vida do carro, que inicia um treinamento de condicionamento físico básico, para gradativamente alcançar o ritmo dos carros mais jovens. O processo de adaptação é complicado e quando finalmente Mcqueen tem contato com o simulador, percebe a dificuldade da situação, não conseguindo evoluir da forma que esperava, acaba pedindo permissão para o patrocinador o liberar para os treinos da maneira a qual ele já está adaptado, com o desenvolver da história Mcqueen começa a ver sua carreira ameaçada e mais uma vez recebe uma lição que muda sua forma de enxergar as coisas, percebendo que sua carreira como piloto pode até estar no fim, mas que um carro com todo o seu talento e sucesso, ainda tem muito o que agregar ao automobilismo.
De tempos em tempos, o grid da Fórmula 1 (e de todas as outras categorias) passa por uma renovação, a nova geração começa a surgir e com elas, as mudanças. É inegável que em 70 anos da categoria, muita coisa mudou, ficaram mais modernas e igualmente no filme da Pixar, a nova geração que começa a tomar conta da modalidade chegou acompanhada de muito apoio da tecnologia; jogos de videogame e simuladores, os próprios carros e treinos estão cada vez mais modernizados, contribuindo não apenas com as questões de segurança, como também na elevação do nível das provas. Os jovens pilotos que cresceram e se desenvolveram em meio a tecnologia, acabam tendo muito mais facilidade em treinamentos do que os pilotos mais velhos. Não me levem a mal, não estou insinuando que Kimi Raikkonen apanhou igual ao Relâmpago Mcqueen, mas com toda certeza ele sentiu muito a diferença quando os carros começaram a se desenvolver para chegarem ao que são hoje, o ponto é que o filme ilustra principalmente a dificuldade que os pilotos têm de perceberem o fim.
E isso é algo absolutamente normal. Imagine que você se dedicou desde criança a um sonho e percebe que com o passar dos anos, aquilo já não é mais para você, não porque percebeu tarde demais que não estava no lugar certo, mas sim porque está perdendo seu espaço e até mesmo seu corpo já não funciona como antes; apesar de ser algo natural, tende a ser decepcionante, principalmente quando você sabe que pode ir mais longe. O que precisa ficar claro, e tanto Doc Hudson quanto Relâmpago Mcqueen deram essa lição muito bem, é que simulador nenhum vale mais do que o talento, no final das contas, os talentos do passado serão a grande inspiração dos jovens e esse é um ciclo sem fim. Outra questão abordada no filme, de forma leve e simples, é a introdução das mulheres no automobilismo, um ambiente dominado por homens que não dá a abertura suficiente (coisa que vem mudando) para que elas estejam na pista, o filme volta a destacar a questão do talento, ele é o protagonista do esporte, e não está relacionado a sexo, é algo natural que surge em homens e mulheres.
Por trás de toda a história, a principal lição deixada pelos filmes é que no final, o talento sempre irá se sobressair, quando Mcqueen entendeu que ele não precisaria largar o automobilismo após sua aposentadoria das pistas, ele percebeu que teria muito mais a agregar dando espaço a um novato que estava pronto para construir sua própria história, mostrando que um final pode ser um novo começo.
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