Para entender o valor histórico desse desafio precisamos conhecer a emocionante trajetória do jogador da seleção inglesa e do Tottenham, Dele Alli.
Bamidele Jermaine Alli, mais conhecido como Dele Alli, é um jogador inglês que atua como meia, atualmente defende o Tottenham Hotspur e a seleção inglesa de futebol. Filho de mãe britânico e pai nigeriano, Dele teve uma infância difícil. Logo em sua primeira semana de nascido, o garoto foi abandonado pelo pai que se mudou para os Estados Unidos, só voltou a ter contato com seu pai aos 8 anos de idade, quando descobriu que ele era um homem muito influente, rei da tribo Iorubá na Nigéria, o que fazia do garoto um príncipe.
Dos 8 aos 11 anos morou na Nigéria com seu pai, mas novamente sofreu com a rejeição e retornou para a casa da mãe, na Inglaterra. Nessa época Dele Alli sofreu com o novo abandono do pai e alcoolismo da mãe, o problema de sua mãe com as bebidas era tão grave que começou a afetar sua memória, tanto que a mulher afirma que o filho foi tirado a força de sua casa pelo pai aos cinco anos e ficou apenas seis meses fora, mas é certo que o menino chegou a morar três com seu pai biológico. Ao ser perguntado sobre essa fase de sua vida, o jogador apenas responde: “Minha vida era difícil”.
Aos 11 anos Dele despertou o interesse de um pequeno time da cidade de Milton Keynes, o MK Dons, onde conheceu seu melhor amigo Harry Hickford, mas as dificuldades para chegar até o local dos treinos fizeram com que Dele aos 13 anos tomasse uma das decisões mais importantes de suas vida; para ajudar o garoto, os pais de Harry propuseram que Dele ficasse com eles três dias por semana, pois moravam mais perto da cede do MK Dons, Dele precisaria da permissão de sua mãe e a mesma permitiu que o menino ficasse sob responsabilidade dos Hickford, logo o menino passou a ficar mais tempo na casa do melhor amigo e as visitas para a mãe e seus outros irmãos tornaram-se cada vez mais raras.
Ao ser questionada pela decisão de deixar o filho morar com outra família, Denise diz: “Eu tive que deixa-lo ir para ter um futuro melhor. Emocionalmente isso partiu meu coração, mas acho que tomei a melhor decisão possível por ele.” E Dele concorda com a mãe: “Eu estava indo por um mal caminho quando tinha uns 12, 13 anos. O futebol era minha salvação.”
Demonstrando todo seu talento, Dele passou a treinar com o time profissional do MK Dons com apenas 15 anos, mas só fez sua estreia aos 17, seu primeiro toque na bola como profissional foi com um passe de calcanhar. Dos 15 aos 19 anos Dele Alli defendeu o time de Milton Keynes, em mais de 60 jogos ele marcou 20 gols e foi assim que despertou o interesse do tradicional Tottenham e em fevereiro de 2015 o clube oficializou sua compra por 5 milhões de libras; se destacando nos treinos logo conseguiu espaço na equipe principal, e ainda em sua primeira temporada de Premier League chegou a seleção profissional da Inglaterra, estreando em um amistoso contra a França e marcando seu primeiro gol pela seleção de seu país.
Quando chegou ao Tottenham a camisa 20 do meio campista exibia o nome “Alli” e isso era algo que incomodava o jogador, pois aquele era o sobrenome de sua pai e ele não se identificava com o nome, então conversou com o clube e pediu para que o nome fosse trocado, hoje em dia o nome na camisa do jogador é apenas “Dele”. Apesar de nunca terem oficializado a adoção, são os Hickford que Dele considera sua família e mesmo não tendo contato com seu pais biológicos, o jogador manteve seus laços com seus irmãos e os ajuda em tudo que é necessário.
Agora que fomos introduzidos a um pouco da história e origens do jogador, vamos ao desafio:
O jovem jogador inglês já era bastante reconhecido pelo futebol que vinha apresentando, mas seu nome passou a repercutir na mídia após uma comemoração um tanto quanto estranho, o jogador fez um gesto com as mãos onde circulava o olho com dois dedos enquanto os outros três permanecem alinhados a testa, logo esse gesto viralizou nas redes e o Dele Alli Challenge ou Desafio do dedo no olho já era um dos mais repercutidos e pesquisados.
Muitas pessoas passaram a associar o símbolo a uma referência illuminati que fazia saudação ao número “666”, mas na verdade o símbolo não tem nenhuma relação a isso, o gesto é uma referência histórica a um povo que a séculos sofre com a intolerância e escravidão.
De acordo com o jogador nigeriano Felix Orode, Dele Alli está homenageando suas origens: “Algo muito comum na Nigéria é a tortura, e entre as mais populares está a remoção dos olhos. Ela é aplicada a homens, crianças e mulheres que ‘se metem onde não deveriam’. Os civis que são presos por militares e conseguem sair com os olhos intactos fazem este símbolo para mostrar que sobreviveram.” Explicou o jogador em entrevista.
Conscientemente ou não, Dele Alli fez referência aos problemas políticos e sociais da Nigéria, país de origem de seu pai onde o jogador é considerado um príncipe e espalhou sua mensagem para o mundo, mas infelizmente mais uma vez as dores e cultura africana foram relacionados a algo “ruim”, novamente toda a dor e angústia de um povo foi diminuído por teorias da conspiração que rolam pela internet e essa é mais uma daquelas histórias que nos mostram o quão importante é conhecer a origem de todos os povos antes de lançar qualquer pré-julgamento, as crenças e costumes africanos já foram desmoralizados por séculos e até hoje não tem o reconhecimento que merecem, passados mais de 500 anos do descobrimento do Brasil, ainda enxergamos a África com os olhos dos portugueses que colonizaram nossas terras.
É de extrema importância que jogadores mundialmente reconhecidos sigam o exemplo de Dele Alli e espalhem as culturas de sua origem para todos e que as pessoas abram suas mentes e aceitem o diferente, porque o diferente não é sinônimo de ruim.
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