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“Meu objetivo hoje é chegar em Tóquio 2021” - Confira a entrevista exclusiva com Michel Gustavo

Na última sexta-feira (31), apresentamos para vocês a história de Michel Gustavo, atleta paralímpico que representa o Brasil no salto á distância. Michel é um atleta de alto nível que sofre com a falta de visibilidade e investimentos em sua modalidade, atualmente Michel ocupa a quinta colocação no ranking mundial e busca por uma vaga nas paraolimpíadas de Tóquio em 2021, você pode conferir a história de Michel clicando aqui.


Reprodução/ Arquivo Pessoal
Reprodução/ Arquivo Pessoal


Em uma conversa exclusiva com o De Virada, Michel nos contou um pouco mais sobre sua trajetória e ambições no esporte, você confere a entrevista a seguir:

Seu primeiro contato com o atletismo foi na escola, qual a sua motivação para continuar praticando o esporte?

Depois do convite do meu professor para conhecer o atletismo, bom, na verdade no começo eu não tinha muita motivação porque pra mim o trajeto da minha casa até o treino já era constrangedor porque eu tinha que pegar condução, transporte público e as vezes tinham os olhares de estranhamento das pessoas para mim e isso sempre me incomodou muito, então no começo eu não tinha muita motivação. O que me motivou a continuar foi quando eu fui à minha primeira competição, além de ter ganho uma medalha, o que me motivou mais foi que eu encontrei outras pessoas no mundo do esporte paralímpico onde existir diversas deficiências diferente da minha. Quando eu cheguei lá eu conheci cadeirantes, conheci atletas sem as duas pernas, atletas cegos, atletas com outros tipos de deficiência que talvez na minha visão naquela época eu achasse que fosse até pior que a minha e eu comecei a pensar que eu estava reclamando de barriga cheia, tem gente em uma situação pior que a minha e está levando a vida numa boa, vivendo e foi aí que eu comecei a pegar mais firme no esporte, mas até então sem grandes ambições.

Como é ser um atleta de salto á distancia em um país que só valoriza o futebol?

É complicado. A visibilidade que o futebol e o atletismo tem são totalmente diferente e isso acarreta outros problemas, um problema atual que todo o atletismo brasileiro vem sofrendo, no Brasil existem pouquíssimas equipes que conseguem manter seus atletas, pagar todos os custos que os atletas tem para conseguir se manter no esporte e a falta de patrocinadores no esporte brasileiro é o maior problema hoje, eu por exemplo sou um atleta que só tem um patrocínio que é o Bolsa Atleta que é uma bolsa governamental que é o que vem me mantendo no esporte, o que vem mantendo vários atletas no esporte, mas talvez esse problema no Brasil é o que acarrete toda essa crise de investimento em outros esportes e no que eu vivo hoje que é o atletismo que vem sofrendo toda essa crise por falta de investimento e patrocinadores.


Quais são as maiores dificuldades para se conseguir um patrocínio?

A popularização no atletismo no Brasil não é tão grande, então quando a gente manda nossos portfolios para empresas, lojas de suplementos, às vezes para eles acaba não sendo tão interessante patrocinar o atleta. Porque não é um esporte tão visto, que não passa na TV, não tem tanta visibilidade, mas existem alguns patrocínios que conseguimos por resultados, por exemplo a Bolsa Atleta, no caso é uma bolsa que eu conquistei por resultados, hoje é o único patrocínio que eu tenho, porém eu já cheguei a ter patrocínios, mas não consegui manter por muito tempo, talvez por falta de retorno, falta de visibilidade, mesmo a gente divulgando. Como eu disse, talvez por não ser um esporte tão popularizado, apesar de no salto á distância o Brasil ser um país de tradição, é um país que já teve grandes saltadores, teve história no salto a distância com recordistas mundiais, medalhistas olímpicos e mesmo assim isso não é tão reconhecido e valorizado, acho que esse é o maior problema para atrair patrocinadores.


Na sua opinião, como a mídia poderia ajudar a melhorar o atual cenário do atletismo no país?

Abrindo mais espaço para o atletismo na mídia em si, em horários nobres como o futebol, tendo mais divulgação do esporte. Durante o ano existem muitas competições no Brasil, tanto olímpica quanto paralímpica e normalmente todas essas competições são gratuitas, então talvez se fosse mais divulgado as pessoas se interessariam em ir, levar suas famílias, ir acompanhar, assistir, e existem locais pertos, de fácil acesso. Se tivesse um espaço na mídia para divulgar essas competições que são gratuitas e muito boas de acompanhar, talvez a popularidade do atletismo no Brasil cresceria, isso é o que eu acredito.


Quais objetivos e sonhos você pretende alcançar na sua carreira?

Meu objetivo hoje é chegar em Tóquio 2021, me preparar da melhor forma para ano que vem conquistar minha vaga e brigar por medalha. Meu sonho mais insano é bater o recorde mundial, ser um recordista mundial e fazer um recorde que dure por muitos e muitos anos.


Você já sofreu algum tipo de preconceito no esporte?

No esporte não, no esporte para ser sincero eu fui muito bem acolhido, todos chegaram no atletismo tentando vencer outros problemas, a maioria já passou por isso, quem não nasceu com deficiência acabou adquirindo uma deficiência e passaram por essa fase e todas essas pessoas me acolheram muito bem, me deram muita força quando eu cheguei no esporte para poder continuar. Meu professor e meu técnico me deram muita assistência nessa parte emocional. No esporte eu nunca sofri nenhum preconceito, sempre fui muito acolhido e sempre me senti muito bem.


Qual foi a principal mudança que o esporte proporcionou na sua vida e quando você percebeu que estava no caminho certo?

Na minha autoestima, na aceitação da pessoa que eu tinha me tornado depois do acidente, depois de ter passado por alguns momentos complicados psicologicamente, quando eu decidi viver do esporte isso me ajudou muito na minha autoaceitação e autoestima, eu passei a ver a vida de outra forma. Eu vi que eu estava no caminho certo quando eu percebi que estava feliz com a forma que eu vivia, apesar de ter sofrido o acidente, ter perdido o movimento do meu braço, eu estava feliz de novo, estava sorrindo, fazendo as minhas coisas e estava vivendo minha vida normal, independente da situação que tinha acontecido, eu tive minha vida normal de volta. O esporte mudou demais minha vida.


Quem é seu ídolo no esporte?

Meu maior ídolo é o atleta brasileiro Mauro Vinicius que é conhecido como Duda, ele já foi bicampeão mundial de salto à distância e ele é um cara que eu admiro muito porque quando eu comecei a treinar ele treinava na mesma pista que eu, lá em São Bernardo, ele ia com o treinador dele e as vezes eu ficava assistindo o treino, olhava de longe ele saltando e ele saltava muito longe, na época eu comecei a pesquisar sobre e descobri que ele já tinha sido campeão brasileiro, sempre representava a seleção brasileira e eu acabei virando um grande fã.


Como você descreveria a experiência de disputar o mundial em Londres?

Foi completamente diferente de todas as sensações que eu já tinha vivido no esporte, eu nunca entrei tão nervoso em uma competição como entrei no mundial em Londres, para ser sincero eu entrei tão nervoso que eu lembro poucas coisas da minha prova em si porque eu estava muito deslumbrado. Os adversários eram pessoas que eu via pela TV, as vezes assistia pelo Youtube eles competindo e eu estava vendo-os pela primeira vez pessoalmente, isso me deixou deslumbrado. Fora a receptividade do povo de Londres, o estádio lotado e as pessoas realmente estavam lá torcendo e acompanhando, isso deixou meu nervosismo lá em cima. Eu nunca tinha entrado em um estádio tão cheio, foi um experiência incrível, eu gostaria muito de sentir novamente essa sensação de frio na barriga, é uma sensação indescritível, não sei dizer como é, eu sei que eu fiquei muito nervoso e muito contente ao mesmo tempo, na verdade eu não estava acreditando na situação que eu estava vivendo de estar disputando fora do Brasil e representando meu país em outro continente, foi incrível.


Se pudesse dar um conselho para os jovens que sonham em ser atletas profissionais, qual seria?

Para os atletas mais jovens eu sempre recomendo que continuem acreditando no trabalho deles, no do técnico e seguindo tudo à risca, sempre acreditando e dando o seu melhor. Se você seguir os treinos à risca, dando seu melhor e abdicando algumas coisas, colocando a disciplina em prática, o sucesso é questão de tempo.

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