A discussão sobre pessoas que torcem para dois clubes pode ser muito longa, pois há aqueles que acreditam que o verdadeiro amante do futebol é devoto de apenas um clube, mas também existem aqueles que defendem os apaixonados que dividem seus corações por dois clubes. Eu entendo ambos os lados, porém, admito que defendo apenas um.
Eduardo Galeano, em seu livro Futebol ao sol e à sombra define o torcedor em uma de suas crônicas, e em determinado parágrafo, diz: “Este jogador número doze sabe muito bem que é ele quem sopra os ventos do fervor que empurram a bola enquanto ela dorme, do mesmo jeito que os outros onze jogadores sabem que jogar sem torcida é como dançar sem música”. Vejam bem, em nenhum momento Galeano diz que o torcedor é aquele que se dedica a apenas um clube.
Carrego comigo a tese de que cada torcedor sente o futebol, ou qualquer outro esporte, de formas diferentes. Existem aqueles que são tão apaixonados por um clube que vivem em função dele, outros amam tanto o futebol que o vivem de todas as suas formas. Às vezes, um individuo ama tanta o futebol, que não satisfeito em amar e sofrer por apenas um clube, adota um segundo para amar e vibrar suas conquistas e sofrer e chorar suas derrotas. É claro que os torcedores que amam um clube com exclusividade não amam menos o futebol, só o sentem de forma diferente.
Meu pai veio do Nordeste, saiu do sertão do Ceará e veio para São Paulo. Quando menino, ainda na roça, carregava o preto e branco do Ceará no peito, depois de se mudar para a selva de pedra, adotou o Tricolor Paulista como clube do coração, o fanatismo o tomou nas arquibancadas do Morumbi, mas jamais deixou de amar o Vozão.
Já um amigo meu é palmeirense doente, para ele tudo o que importa é seu alviverde e quanto mais imponente seu time está, mais confiante ele é. Ele é desses que viaja para onde for preciso para ver o Palmeiras jogar, que não suporta as piadas sobre 51 e que carregam com si a obrigação de defender seu time, que perde a linha caso alguém discordo que o Palmeiras é o maior. Ele é o que hoje se define como torcedor raiz.
E tem eu, que apesar de ser completamente apaixonada pelo meu time brasileiro, aquele que torço e acompanho desde criança, que me fez amar cada vez mais o futebol, que me presenteou com todos os títulos possíveis, que me acolheu e me ergueu nos meus piores dias, divide o espaço em meu peito com um europeu pentelho que tentou roubar a cena, não conseguiu, pois eu jamais abandonaria meu primeiro time, minha primeira casa.
Mas não posso negar que esse europeu me conquistou por diversos fatores: história, torcida, cultura, país, filosofia e vários outros fatores. Se meu time daqui ajudou a formar a Beatriz de hoje e plantou na minha cabeça -e coração- o sonho do jornalismo esportivo, o time europeu mostrou que eu poderia muito mais, elevou meus desejos e me deu novas perspectivas, o futebol me moldou, e tanto Corinthians quanto Bayern abriram meus olhos para tudo que eu posso fazer, tudo o que posso ser.
Parece meio dramático e talvez seja mesmo, mas com esses exemplos eu quero reforçar a minha tese de que o futebol é único para cada pessoa. Pode ser que você, torcedor, se identifique com um de nós três, ou com nenhum, porque o futebol é grande demais para ser igual para todos.
Não importa se você é “raiz” ou “Nutella”, o que importa mesmo é o que o futebol significa para você. Os dilemas de torcer para um ou dois times pouco importam, o que vale mesmo é a emoção que seu (s) time (s) te proporcionam, afinal, o futebol pode ser mágico!
Comments